Dezenas de pais e alunos do Colégio Santo Agostinho promoveram um abraço coletivo nas quatro unidades da instituição, localizadas em Belo Horizonte, Nova Lima e Contagem, na região metropolitana da capital na tarde desta quinta-feira (29). A ação foi realizada em apoio a escola que enfrenta polêmica envolvendo 128 pais de 84 alunos entre 8 a 12 anos,  matriculados nas 3º a 6º séries do ensino fundamental. Desde julho de 2017, representantes desses pais elaboraram uma notificação extrajudicial exigindo que conteúdos relacionados a gênero e sexualidade fossem proibidos em sala de aula. A discussão foi levantada por conta de páginas de um livro de ciências que abordaria assuntos considerados inapropriados pelos pais em função da idade das crianças. Segurando as mãos dos filhos de 9 e 11 anos, alunos da 6º série, enquanto a corrente do abraço era formada, a economista Meire Batista, 47, afirmou que a escola não incluiu nenhum material de apologia à ideologia de gênero. "Isso nunca foi colocado no colégio. Meus filhos estudam há quase quatro anos e só tenho a agradecer o regime de educação da escola. É fundamental a escola trabalhar questões do corpo humano e puberdade, receberem essa orientação e a escola é um canal com potencial para passar isso, aliado às conversas em família que são fundamentais. Aqui se prega respeito e tolerância", disse.

Grávida do quarto filho, a contadora Marina Ribeiro, 37, revelou que gerações da família passaram pelo colégio. "O bisavô, o avô, o pai os irmãos desse pequeno que vai nascer estudaram aqui. Para mim, essa denúncia é fantasiosa, ideológica. Eu acho que o que já foi abordado com meus filhos, principalmente o mais velho, de 12 anos, foi bem apropriado para a idade deles. Em casa a gente dialoga, mas a escola também participa dessa formação social e humana", argumenta. O diretor da unidade do bairro Santo Agostinho, Clóvis Oliveira, disse que a ação é democrática. "O abraço é uma defesa não só do colégio mas da educação como um todo.Sempre tivemos e mantemos diálogos com os pais. Respeitamos a diversidade. Não há nada de especial nesse material falado. Há acusações genéricas. Nos estamos muito surpresos com essa ação", comentou.

Em julho de 2017, 128 pais elaboraran ação extrajudicial em que exigiam que conteúdos sobre sexualidade e gênero fossem proibidos em sala de aula. Meses depois, em novembro do mesmo ano, foi realizada representação no Ministério Público de Minas Gerais, em que os pais questionaram a inclusão de "ideologia de gênero" na proposta pedagógica do colégio. Na ação, os promotores Celso Penna Fernandes Júnior e Maria de Lurdes Rodrigues Santa Gema consideram que houve "ensino de matérias, uso de práticas, de material e de dinâmicas indevidos, inadequados ou incompatíveis com a respectiva idade". Eles dizem, ainda, que o ensino "veio a prejudicar o desenvolvimento psíquico e moral dos mesmos, considerando serem pessoas ainda em desenvolvimento". O valor da indenização iria para o Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente de Belo Horizonte.

Em nota, o Colégio Santo Agostinho informou que não contempla a "ideologia de gênero. Segundo a instituição, a ação "contém alegações absurdas, desconectadas da realidade e sem correspondência com a verdade" e o "Colégio Santo Agostinho já está tomando as medidas judiciais cabíveis". Na última terça-feira (27) alunos da unidade de Nova Lima do colégio Santo Agostinho, na região metropolitana da capital, divulgaram nota desmentindo afirmações dos pais que acionaram o MP. Os estudantes afirmam que nenhum material com a suposta ideologia de gênero foi apresentado em sala de aula. Ainda no começo da semana, a 25ª Promotoria de Justiça de Belo Horizonte, especializada na Defesa do Direito à Educação, solicitou que a ação contra o colégio Santo Agostinho fosse suspensa.

Em comunicado, o SINEP/MG disse não aceitar que se faça qualquer movimento que busque distorcer a proposta das instituições, como ferir a autonomia que é garantida por lei.  A escola é o espaço para a aprendizagem plena e está apta para isso.

Fonte: O Tempo

Finalidade: Educacional