Na mira após ataques do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), a educação sexual tem no Brasil diferentes formatos de acordo com a escola —de horários exclusivos na grade a tratamento interdisciplinar. Em regra, porém, as instituições abordam temas similares: puberdade, doenças sexualmente transmissíveis, gravidez, violência e privacidade em tempos de nudes e pornografia na internet. De forma geral, segundo colégios consultados pela reportagem, os primeiros temas abordados são relativos ao corpo e suas transformações. Com o passar do tempo, são tratados assuntos como relacionamentos, métodos contraceptivos, consentimento e orientação sexual. As discussões se inserem em um quadro de aumento na taxa de detecção da Aids entre meninos de 15 a 19 anos e de persistência nos índices de gravidez na adolescência. A violência sexual é outro problema na faixa etária. Segundo registros do SUS, 49,5 mil meninas de 10 a 19 anos sofreram estupro de 2011 a 2016, média de 23 por dia. Em 58% dos casos, o crime ocorreu na residência. Em 36%, familiares ou parceiros íntimos foram os prováveis autores. Em diversas declarações, porém, Bolsonaro disse ser contra a abordagem da sexualidade nas instituições de ensino. “Quem ensina sexo para a criança é o papai e a mamãe. Escola é lugar de aprender física, matemática, química. Fazer com que no futuro tenhamos um bom empregado, um bom patrão e um bom liberal”, afirmou em novembro.
Apontado como seu ideólogo, o escritor Olavo de Carvalho disse em entrevista à Folha na semana passada que, “quanto mais educação sexual, mais putaria nas escolas”. “Está ensinando criancinha a dar a bunda, chupar pica, espremer peitinho da outra em público. Acham que educação sexual está fazendo bem, mas só está fazendo mal.” A Câmara dos Deputados, por sua vez, discute uma proposta que restringe a inclusão do tema nas escolas. Trata-se da versão mais recente do projeto Escola sem Partido em tramitação. Ela prevê que os valores familiares devem ter “precedência sobre a educação escolar nos aspectos relacionados à educação moral, sexual e religiosa”. Determina ainda que não serão adotadas políticas que usem os termos “gênero” e “orientação sexual” ou que apliquem a chamada “ideologia de gênero” —expressão repudiada por educadores, cunhada por religiosos para se referir a discussões sobre a construção social do papel do homem e da mulher e a identificação das pessoas com um gênero ou outro. Tirar a sexualidade da escola vai contra relatório deste ano da Unesco, braço das Nações Unidas para a educação. O documento contém uma revisão de estudos do mundo todo feita por pesquisadores da Universidade de Oxford.
Eles analisaram pesquisas que atendem a parâmetros científicos e concluem que a inclusão curricular de aspectos sociais, cognitivos, físicos e emocionais da educação em sexualidade contribui para o adiamento do início da vida sexual, a redução do número de parceiros e o aumento do uso de preservativos e outros métodos contraceptivos.
Fonte: Folha.com
Finalidade: Educacional