Muito citado recentemente por ter influenciado Jair Bolsonaro na escolha de dois ministros, o filósofo Olavo de Carvalho concedeu entrevista ao jornal O Globo e à Folha de S. Paulo, e falou de sua relação com o presidente eleito e reforçou suas críticas ao projeto Escola Sem Partido. Carvalho foi um dos responsáveis por Bolsonaro nomear Ricardo Vélez Rodríguez como ministro da Educação e Ernesto Araújo para futuro ministro das Relações Exteriores. Mesmo tendo aderência ao futuro governo ele não simpatiza com a proposta do Escola Sem Partido. “O projeto de lei é prematuro, pelo fato de que não existe documentação científica a respeito do problema (do esquerdismo nas escolas e universidades). Você não pode começar um debate legislativo sem ter o debate científico primeiro. Acho que colocaram a carroça na frente dos bois”, declarou.

Confira o momento em que o filósofo responde ao jornalista do O Globo e Folha de S. Paulo:

O sr. critica o Escola sem Partido e defende que haja um debate científico que quantifique a hegemonia comunista no ensino antes que sejam tomadas ações. Como fazê-lo, na prática?

No começo dos anos 90, sugeri a empresários, instituições militares, instituições de cultura, várias vezes, uma pesquisa vasta sobre a dominação comunista nas universidades e na mídia. Ninguém prestou a menor atenção. Por exemplo, nas universidades, o que tem que ser feito é um recenseamento das teses de mestrado e de doutorado apresentadas nas áreas de filosofia, letras e ciências humanas. Ali já vai ver influência comunista maciça. E ver ao longo dos anos a deterioração na qualidade das teses. Além  do recenseamento, fazer várias técnicas cruzadas, inclusive pesquisa de opinião, de eleitorado, da votação.

O novo ministro apoia o Escola sem Partido. Pretende aconselhá-lo de alguma forma sobre a questão?

Eu não saio dando conselho para ninguém, só respondo o que me perguntam. Se o pessoal do Escola sem Partido [entenda a proposta do Escola sem Partido] quiser os meus palpites, eu lhes dou. Se não quiserem, quiserem continuar fazendo do jeito deles, que façam. E ministro também está ali para fazer as coisas do jeito que quiser. Eu não sou desses intelectuais ativistas, assanhados para influenciar o curso das coisas.

O senhor publicou recentemente um vídeo com críticas ao Escola sem Partido, por ser muito focado em mudar a legislação, e pouco no combate cultural. Já discutiu esse assunto com Vélez?

Não, e nem tentei influenciá-lo nisso. Foram notas sobretudo para os fundadores do Escola sem Partido, que são pessoas amigas minhas. À medida que o movimento evolui na direção de um projeto de lei, a coisa se complica, porque o projeto de lei é prematuro, pelo fato de que não existe documentação científica a respeito do problema (do esquerdismo nas escolas e universidades). Você não pode começar um debate legislativo sem ter o debate científico primeiro. Acho que colocaram a carroça na frente dos bois. Nós não temos uma visão quantitativa da hegemonia comunista no ensino, e ainda estamos na esfera do argumento retórico.

Fonte: Folha e Globo
Finalidade: Educacional