O anúncio da divisão das férias em quatro períodos na rede pública estadual de ensino de São Paulo, a partir de 2020, dividiu opiniões entre envolvidos na área de educação. O governo aposta que a medida vai impactar na aprendizagem dos estudantes e ainda garantir a efetiva realização dos 200 dias letivos por ano; professores, porém, questionam a efetividade pedagógica da mudança. Até este ano, o calendário das escolas estaduais prevê 15 dias de férias em dezembro, e os meses de janeiro e julho completos. Docentes têm 15 dias de férias em julho e 15 em janeiro. Isso sem contar os feriados e recessos. A nova proposta, apresentada pelo governador João Doria (PSDB) na sexta-feira (26), é que as férias de dezembro sejam encurtadas --iniciando logo na véspera do Natal, e não mais uma semana antes do feriado. As de julho seriam reduzidas para 15 dias, e outros dois pequenos períodos de descanso deverão ser oficializados como férias nos meses com os feriados de Tiradentes (abril) e Nossa Senhora Aparecida (outubro). O site G1 ouviu explicações do secretário da Educação, Rossieli Soares da Silva, e o posicionamento do sindicato dos professores e de especialistas em pedagogia. Confira abaixo o que dizem os profissionais sobre os principais temas que cercam a questão. A Secretaria da Educação afirma que o principal motivo para a divisão das férias é melhorar o desempenho dos estudantes nas matérias. Os docentes consultados pela reportagem desconhecem a justificativa pedagógica de que um mês de férias prejudica o aprendizado. “Divisão de férias não é um assunto em pauta na pedagogia, daí a surpresa. Não acredito que traga impacto positivo nem negativo, porque o aprendizado depende é da qualidade do ensino”, afirmou a pedagoga Silvia Colello, livre-docente na Universidade de São Paulo (USP). “O aluno não é passivo, já mostrava [o psicólogo suíço Jean] Piaget. O aprendiz, independentemente da idade, elabora conhecimento, desenvolve suas competências a partir do ensino, que deve ser promovido de modo que instigue o aluno a se envolver, refletir e deduzir”, continuou. A pasta da Educação enviou à reportagem estudos que mostram a queda no desempenho dos estudantes norte-americanos após longas férias de verão nos Estados Unidos. “Essa discussão ainda não chegou nas universidades brasileiras. A reorganização vai permitir que o aluno consiga descomprimir a carga de estudos com períodos de férias menores”, disse o secretário Rossieli Soares da Silva. Para Helena Singer, PhD em sociologia pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), com experiência na área da educação e passagem pela equipe do Ministério da Educação (MEC) em 2015, a comparação com outras culturas não é indicada, já que cada país tem sua realidade distinta. “Nos EUA eles têm outra forma de dividir o ano, de trabalhar a educação básica e o ensino superior. Não usam semestres, como a gente. As estações do ano são mais acentuadas, e isso impacta por lá, pois em alguns lugares é realmente difícil seguir com aulas em determinados períodos”, explicou.

 

Fonte: G1

Finalidade: Educacional